segunda-feira, 3 de setembro de 2007

"Coronelismo eletrônico?” – a construção política do Grupo Sarney e o uso do aparelhamento da mídia no Maranhão (PARTE I)

Desenvolvo esta análise a partir da construção de um novo (ou velho?) coronelato apoiado na mídia eletrônica que teve início nos primórdios da Ditadura e veio adquirir novo contorno com o processo de redemocratização. Hoje esse modelo está na contramão dos novos anseios da sociedade brasileira. Está em queda livre, basta verem-se os últimos resultados nas eleições. O espaço adquirido pelo controle social dos meios de comunicação tem colocado em xeque os parlamentares eletrônicos.

No espaço da política do Maranhão há uma prática social dialógica na qual o político local pelo uso de uma “linguagem” sociolingüística “produz” o sustento dessas caducas práticas políticas. O “tempo político” desses agentes, aqui no Maranhão, vai embaralhar-se em discursos que usam uma linguagem performática construída historicamente – o “apogeu” e a “decadência” do Estado.

Essa teorização do apogeu e da decadência é explicada pelo discurso da “revitalização do Maranhão”, discurso utilizado como prática no mercado lingüístico maranhense, apontado pela professora Fátima Gonçalves na sua obra “A reinvenção do Maranhão dinástico”, onde diz que “O discurso da decadência, o discurso do apogeu do passado, o discurso da revitalização do passado, o discurso da idealização do passado sobre o Maranhão, presentes nas formulações, explicações e produzidos nos campos intelectual e político, têm suas bases assentadas nas relações e lutas travadas no campo intelectual assim legitimadas. Relacionam-se, nesse sentido, à construção de uma representação de um Maranhão cortado pelos planos de tempo – passado, presente e futuro, intrinsecamente ligadas, em que um não existe sem referência ao outro.”

O tempo no Maranhão embaralha-se nas práticas discursivas dos nossos políticos onde seus discursos vão influenciar políticas locais que ficam à mercê dos passados remoto e próximo, do presente e da esperança num futuro. Nessa costura, percebe-se a sublimação de um arquétipo de “messianismo político”.

A polissemia do discurso político acompanha o tempo institucionalizado num “grande tempo” – um diálogo com o infinito, inacabado; ao passo que o “pequeno tempo” é o dia de hoje, o passado recente, o futuro esperado. Nossos agentes políticos construíram historicamente o grande tempo, deixando-o permanentemente sendo revitalizado e reinterpretado, mas usando a mesma linguagem performática e as mesmas condições de produção da linguagem.

Nesse controle político local via práticas discursivas foi o Grupo de José Sarney que ficou com o faturamento da “produção de sentidos”: com o uso de seu aparelhamento midiático local.

As articulações de símbolos, do imaginário coletivo e das representações funcionam como “aparelhos” bem utilizados desde o Maranhão Novo, Governo de José Sarney, com o propósito de seduzir nossa audiência – o eleitor, leitor, ouvinte maranhenses.

Nesse contexto a mídia do Grupo Sarney assume papel relevante na produção de sentidos para o sujeito – a nossa audiência. O poder da mídia funciona como um instrumento de “consciência moderna” que confere “visibilidades e verdades” sem precedentes aos acontecimentos, ou seja, é um meio poderoso de criar e fazer circular conteúdos simbólicos e é transformador, sendo um poder pouco estudado, ainda é subestimado.

O sarneísmo decorreu do “projeto” Maranhão Novo, no qual a mídia utilizada “pelo” e “do” grupo assumiu um papel crucial de produção de sentidos, visto que funcionou como um instrumento de “consciência política” local que transformou os campos simbólicos existentes.

Na relação social com os atores (eleitor – ouvinte – leitor) envolvidos, o sistema midiático sarneísta cria o seu “tempo” e seu “espaço” com o uso de “fabricação de crenças”.

Já o professor Francisco Gonçalves na sua dissertação “O rapto da máscara mortuária: as astúcias enunciativas da Coluna Sarney e a composição – transformação de identidades públicas nas eleições de 1994”, aborda como as relações do jornalismo com o discurso e suas representações vão definir padrões de aliciamento por parte de grupos políticos – no Maranhão o alicerçado foi desenvolvido pelo Grupo Sarney: “[...] parti do pressuposto que o jornalismo não se constitui apenas em um dispositivo de revelação do que se passa em outra cena, mas, através de dispositivos e enunciação, age sobre a atividade política, interferindo na configuração de cenários, na composição das identidades públicas e no rumo dos próprios acontecimentos [...]”.

O papel da mídia no discurso do clã Sarney foi fundamental para construir um modelo que levasse a audiência a crer nas simbologias desenvolvidas que serviram na manipulação e anestesia do eleitor.

No tópico seguinte tratarei do “caciquismo eletrônico” de José Sarney tendo como marcos históricos a Ditadura e a Nova República.

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